domingo, 14 de outubro de 2012
sábado, 4 de fevereiro de 2012
O processo de documentação museológica.
Um museu constitui um espaço privilegiado para a produção e reprodução de conhecimento, tendo a cultura material como instrumento de trabalho. Nesta perspectiva, para além de suas salas e exposições, é preciso conhecê-lo em seus bastidores, questioná-lo em suas ações diárias demandando uma postura ética na construção de sua identidade sociocultural.
Partindo-se do pressuposto de que objetos/documentos são suportes de informação, o grande desafio do museu é preservar o objeto e a possibilidade de informação que eles contém e que o qualifica como documento.
O desenvolvimento articulado dessas ações evidencia que os museus são organismos estreitamente ligados à informação. Os objetos museológicos – veículos de informação - têm na conservação e na documentação as bases para a sua transformação em fontes de pesquisa científica e de comunicação, e estas, por sua vez, produzem e disseminam novas informações, cumprindo-se o ciclo museológico.
Em seu formato final, o inventário adota modelo único de planilha, cujo preenchimento dos campos obedece a orientações prescritas em manual próprio. Portanto, a cada objeto do acervo deve corresponder uma planilha, contento informações específicas sobre o mesmo, ficando todo o conjunto disponibilizado num banco de dados, segundo a ordem numérica de registro dos bens.
O procedimento primeiro de tratamento da informação sobre um objeto museológico consiste no registro individual do objeto, através d um código próprio, que o identificará de forma permanente dentro do acervo. Entende-se, portanto, como código de registro ou código de inventário, o processo de numeração pelo qual o objeto é incorporado oficialmente ao cervo do museu.
Neste sentido, o objeto incorporado a um museu, ao ser retirado do contexto original e transferido para um local de domínio público especialmente preparado para a sua guarda e exibição, perde seu valor de uso / função e assume o papel de bem museal, cuja preciosidade é balizada por sua carga documental e simbólica, que o distingue da condição anterior.
Assim, a produção de conhecimento dentro de um museu demanda uma rotina de pesquisa interdisciplinar, associada a discussões teóricas, além de uma constante interlocução com outras áreas que operam, de algum modo, com a questão do documento/bem cultural. Esses são os fundamentos básicos para a aplicação de um sistema de documentação museológica que atenda às demandas contemporâneas de socialização de informações e de construção contínua de memórias e identidades.
A relação entre museus e ensino de história no Brasil
Não há dúvida de que, perante a força destes apelos, os atrativos culturais tornam-se migalhas insignificantes no contexto do aproveitamento turístico. O turista nacional e os jovens estudantes vislumbram, numa possível visita a um museu de história, algo que poderia ser sintetizado como uma grande maçada entediante, devendo ser evitada sempre possível.
A HISTÓRIA SEM SÍMBOLOS
Ainda hoje estamos sofrendo os efeitos de uma ênfase por demais exagerada à historiografia baseada na grande síntese e na filosofia da história. O aluno de aproximadamente quatro décadas atrás era verdadeiramente esmagado pela quantidade de nomes e datas que necessitava decorar para se sair bem nos exames.
A passagem a um outro (tipo de ensino) não representou, de fato, um enriquecimento intelectual para o aluno. História virou sinônimo de ideologia e interpretação, ideologia esta do professor.
Com isso, foi-se perdendo o sentido simbólico das datas e, como decorrência, das localidades históricas. A historiografia, no afã de desmitificar os heróis, dedicou solene desprezo ao Grito do Ipiranga, à Fundação de São Paulo, ao suicídio de Getúlio Vargas.
Mas não foi apenas a história regional que sofreu, pois a própria identidade nacional não deixou de ser abalada. Se não bastasse a situação do país e seus crônicos problemas sociais, ainda por cima o brasileiro começou a considerar a sua pátria a única do mundo a não ter grandes nomes. [...] Proliferou, espantosamente, no ciclo básico, a ideia de que os degredados. Esta visão derrotista revela não apenas uma momentâne falta de crença no país – que desde o começo nascera errado – mas também uma profunda distorção dos acontecimentos históricos.
O resultado disso é bastante previsível: quebrou-se, nas novas gerações, o vínculo empático com a história. Sem compreensão do aparato simbólico criado pelo e a partir do passado – no qual se incluem os antigos personagens ou chamados protagonistas da história, as datas símbolos e, principalmente, a cultura material – visitar um museu de história tornou-se algo entediante, obrigação imposta por poucos e, geralmente, professores mal preparados.
PIRES, Mário Jorge. Lazer e turismo cultural. 2ª edição – 2002. Editora Manole – Barueri SP.
Um pouco mais sobre museus
O museu era o guardião dos tesouros da classe dominante, principalmente obras de arte e objetos exóticos resultantes de espólio de guerra ou viagens de descobrimento.
No século XVII somente viajantes distintos e cientistas podiam apreciar as coleções e os jardins botânicos dos príncipes europeus. A partir de 1700, a Galeria Imperial de Viena, o Palácio Quirinal de Roma e o Palácio Escorial da Espanha permitiram o ingresso do público mediante o pagamento de uma taxa [...]
As coleções refletiam a vaidade dos seus donos, mostrando riquezas, na forma de obras de arte amontoadas. Já os denominados “gabinetes de curiosidades” acumulavam coisas exóticas e raridades – algumas falsificadas, como as sereias e o unicórnio marinho.
Entre 1795 e 1799, o Louvre (espólios de guerra de Napoleão). Foi considerado desde o início um “museu do povo” no qual qualquer pessoa podia ingressar sem pagar. Seu objetivo fundamental era educar as pessoas no sentido de inculcar os valores burgueses após a revolução.
Na Inglaterra, a situação não era a mesma. Até o século XIX, o Estado não deu apoio aos museus, argumentando que “não era de incumbência do governo de Sua Majestade dar luxos ao povo”.
De certa forma, compreende-se que uma exposição sobre as últimas novidades da tecnologia tivesse mais sentido para a classe operária do que obras de arte que estavam longe da sua compreensão ou dos montes de objetos amontoados nas salas dos museus sem explicação.
A partir da década de 1930, com as mudanças antes mencionadas no conceito de história e com a revisão dos métodos de trabalho na antropologia, os museus mergulharam num período de crise.
Por sua vez, a história passou a dar importância a grupos sociais antes ignorados e as inovações começaram pelo redimensionamento das funções pedagógica e social da instituição museística, procurando romper com o tradicional e buscando intensificar as relações com o público.
Em 1946, foi constituído dentro das Unesco, o International Council of Museums (Icom), Conselho Internacional de Museus, sediado em Paris
Essa instituição, entre outras tarefas, analisa e determina quais foram os museus paradigmáticos no passado e quais são esses museus no presente.
Os museus de história tiveram quatro etapas, dos seus primórdios até a década em estudo. Primeiramente, nos séculos XVIII e XIX, o interesse era pela história da Grécia, de Roma e do Oriente Médio nos tempos bíblicos. Depois, veio a época do nacionalismo, caracterizada por uma atitude romântica para com as guerras. Depois da Segunda Guerra Mundial, veio a etapa em que “o homem comum começa a sair das trevas” e, finalmente, chega-se à etapa atual, em que existe a convicção de que tudo o que aconteceu – os grandes feitos, a pequena história, os detalhes do quotidiano da aristocracia ou dos seus serventes – é importante não somente para entender o passado, mas para planejar o futuro, sobretudo evitando os males do passado.
Existem, neste momento, diferentes tipologias de museus, algumas oficialmente reconhecidas, outras sendo propostas. Os museus podem ser classificados pela sua arquitetura, e há novos paradigmas quanto à sua relação com o público, a museografia e, o mais importante, quanto ao papel social que eles devem desempenhar.
Na atualidade, os visitantes integram-se nos cenários montados nos museus, interagem com elementos robotizados, experimentam sensações, realizam experiências científicas, brincam.
Defende-se também a musealização como uma forma de mostrar o passado histórico sem obrigar a um congelamento das populações. A musealização permite criação de microcosmos onde histórias fidedignas são contadas. Pode-se reproduzir um momento do passado, que seja importante para a identidade de um determinado grupo social, com tanta autenticidade quanto possível, em face do que as tecnologias atuais oferecem, e com qualidade estética.
Retirado de: Cultura e turismo: Discussões contemporâneas / Margarita Barretto. – Capinas, SP: Papirus, 2007. – (Coleção Tuirsmo),
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